Imerso em uma das mais severas secas da história, o Brasil tem vivenciado meses de temperaturas acima da média, levando a uma crise hídrica de proporções devastadoras. Se o planeta continuar na rota atual de 3°C de aquecimento em relação à era pré-industrial, é possível que situações de crise como essa se tornem comuns nas próximas décadas. Ondas de calor, aumento na transmissão de doenças e uma demanda crescente por energia para ar-condicionado são algumas das consequências esperadas.
Um estudo recente do World Resource Institute (WRI), divulgado na última quinta-feira (19), analisou dados de 996 cidades com mais de 500 mil habitantes. O Brasil teve 32 cidades incluídas na análise, entre elas Manaus, Belém, Aracaju, Goiânia, Cuiabá, Uberlândia, Belo Horizonte, São Paulo, Santos, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Maceió e Fortaleza. Os pesquisadores compararam indicadores de risco em áreas estratégicas como saúde pública, infraestrutura e produtividade econômica para entender como essas cidades responderiam a diferentes cenários de aquecimento global.
Ondas de Calor: Um Desafio Crescente
Caso a temperatura média global suba 3°C, a previsão é que a frequência de ondas de calor aumente substancialmente. Hoje, essas ondas ocorrem cerca de 4,9 vezes por ano, e esse número pode subir para 6,4 vezes. As ondas de calor se tornarão mais longas, com a média de duração passando de 16,3 para 24,5 dias.
Quais são os municípios mais vulneráveis no Brasil?
O estudo do WRI mostra que pensar em ondas de calor frequentes será uma realidade em quase todas as 32 cidades brasileiras analisadas. Em Cuiabá, por exemplo, a previsão é de até 12 ondas de calor por ano, com algumas podendo durar até 32 dias. Na região Sul, Curitiba enfrentará até sete ondas de calor anualmente.
A Propagação de Doenças Transmitidas por Mosquitos
O aumento das temperaturas também favorece a propagação de mosquitos transmissores de doenças como dengue, febre amarela, zika e chikungunya. O estudo do WRI estima que com um aumento de 3°C na temperatura global, mais locais no mundo se tornarão propícios para a multiplicação desses vetores.
No Brasil, que em 2024 enfrentou sua mais grave epidemia de dengue, o risco de infecção aumentará significativamente. No Rio de Janeiro, por exemplo, o número de dias propícios para a infecção por dengue poderia subir de 69 para 118 dias.
Energia para Enfrentar o Calor Extremo
Para lidar com o calor extremo, muitas pessoas irão recorrer ao uso de ar-condicionado, o que aumentará a demanda por energia elétrica. As estimativas do WRI mostram que, com um aumento de 3°C, pelo menos 194 milhões de pessoas devem dobrar o consumo de eletricidade para resfriamento.
Mesmo em países com climas mais amenos, como na Europa, a demanda por ar-condicionado tem crescido. Em 2023, o ano mais quente já registrado até então, as vendas de aparelhos aumentaram em média 16% durante as semanas de verão no Hemisfério Norte, conforme estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA).
Investir em Adaptação: Uma Necessidade Urgente
Diante deste cenário preocupante, investir em infraestruturas verdes torna-se essencial. Keila Ferreira, coordenadora de baixo carbono e resiliência do Iclei no Brasil, sugere que a criação de espaços arborizados para reduzir o calor urbano e o uso de materiais permeáveis para controlar enchentes são passos importantes.
Cidades que investirem em energia solar e eólica podem reduzir a dependência de fontes fósseis e a emissão de gases de efeito estufa, contribuindo assim para a estabilização do clima. É vital que as cidades adotem medidas sustentáveis para mitigar os impactos do aquecimento global e proteger suas populações.
Em resumo, o prognóstico é preocupante, mas com ações coordenadas e investimentos nas áreas certas, é possível enfrentar e mitigar os efeitos devastadores da mudança climática.