A morte de Takashi Morita foi comunicada em uma nota de pesar divulgada nas redes sociais da Escola Técnica Estadual (Etec) de Santo Amaro, localizada na Zona Sul de São Paulo. A instituição, que leva o nome de Takashi desde 2019, lamentou profundamente a perda de seu patrono. O velório aconteceu na manhã desta terça-feira (13), no Plena Funeral Home, e o sepultamento foi realizado às 15h no Cemitério Congonhas.
Além da nota, a Etec expressou solidariedade à família de Takashi Morita. “É com profundo pesar que a direção comunica a perda do nosso patrono, Sr. Takashi Morita. Lamentamos a perda e nos solidarizamos com a família neste momento difícil”, declarou a instituição. Morita era morador de São Paulo desde 1956 e ficou conhecido como um dos “hibakushas”, os sobreviventes dos bombardeios atômicos que ocorreram no final da Segunda Guerra Mundial em 6 de agosto de 1945.
Takashi Morita tinha apenas 21 anos quando a bomba atômica explodiu em Hiroshima, a cerca de 1,3 quilômetro de onde ele estava. Na época, ele era soldado da polícia militar japonesa. Morita ainda permaneceu em seu país de origem por mais 12 anos, durante os quais foi diagnosticado duas vezes com leucemia e submetido a tratamentos
Como foi a experiência dele durante o bombardeio?
Em uma entrevista concedida ao g1 em 2011, com ajuda de sua filha Iasuko Saito, Takashi lembrou vividamente daquele dia. “Lembro-me como se fosse hoje. Eu estava caminhando nas ruas da cidade quando a bomba caiu. Primeiro foi um clarão, depois uma escuridão. Então começou uma chuva preta, e as pessoas queimadas abriam a boca para tomar aquela água contaminada. Eu via pessoas queimadas, dilaceradas”, relatou Morita.
Após a explosão da bomba, Morita e outros sobreviventes deixaram Hiroshima devido à radiação que se espalhava. “Mas eu fiquei durante dois dias só carregando corpos, ajudando pessoas. Nestes dois dias, não comi nem bebi nada na cidade. Tudo podia estar contaminado e me contaminar por dentro. Se a radiação entra dentro de nós, daí não tem salvação”, explicou ele na época.
Takashi Morita encontrou uma nova vida no Brasil
Convencido de que teria melhores oportunidades no Brasil, Morita embarcou em um navio com destino a São Paulo em 1956, acompanhado de sua esposa e dois filhos. Após uma jornada de 42 dias, eles desembarcaram no Porto de Santos e seguiram para a capital paulista. “Me falaram que São Paulo era uma cidade alta, com um bom ar”, relembrou Morita.
Em 2019, ele foi homenageado pelo estado de São Paulo por sua luta contra a radiação. A Etec de Santo Amaro foi renomeada para Etec Takashi Morita. Durante a homenagem, várias atividades culturais foram realizadas, incluindo apresentações de teatro, dança, taikô e sarau.
Takashi compareceu à Etec acompanhado de familiares e de outros dois sobreviventes da bomba de Hiroshima que residem no Brasil. Os alunos e professores da instituição cantaram parabéns ao comerciante e entregaram flores, canecas e arranjos confeccionados pelos próprios estudantes.
“É de suma importância os jovens alunos aprenderem sobre a importância da paz. Nosso patrono é um sobrevivente de Hiroshima e sempre ensinou um mundo de harmonia, paz e a história de superação e luta pela paz mundial, principalmente agora que o mundo vive duas guerras”, destacou a professora Ana Lúcia Calaça na época.
- Homenagem pelo Centenário: Em 2024, a Etec Takashi Morita celebrou o centenário de seu patrono com uma cerimônia especial.
- Eventos Culturais: A celebração incluiu apresentações de teatro, dança, taikô e sarau em homenagem a Morita.
- Reconhecimento: Flores, canecas e arranjos confeccionados pelos alunos foram entregues a Takashi durante a cerimônia.
Takashi Morita pode ter deixado este mundo, mas seu legado de paz, resiliência e superação continuará a inspirar muitas gerações. Seu nome e história agora estão eternamente gravados na Etec Takashi Morita, um símbolo vivo de sua luta e perseverança.