A recente decisão do Justo de encerrar suas operações no Brasil marca o fim de um projeto que visava revolucionar o setor de supermercados digitais no maior mercado da América Latina. Fundada no México em 2019, a startup chegou ao Brasil em 2021 com uma proposta inovadora de criar um supermercado 100% digital.
Contudo, após três anos de operação e um recente aporte de US$ 70 milhões, a empresa anunciou sua saída do país, com efeitos a partir de sábado (7).
Expansão do justo e o foco no Brasil
Desde sua chegada ao Brasil, o Justo se posicionou como uma proposta moderna para o varejo alimentar. A ideia de oferecer uma plataforma 100% digital, com entregas no mesmo dia de produtos como hortifrúti, carnes e itens de limpeza, conquistou a atenção de consumidores que já estavam se adaptando às compras online devido à pandemia.
A empresa também firmou parcerias estratégicas com gigantes como a Latam e o iFood, o que ampliou seu alcance no país. O cenário parecia ideal, a pandemia havia acelerado a adesão ao comércio eletrônico e, com o mercado brasileiro se tornando cada vez mais receptivo ao modelo de compras digitais, as perspectivas para o Justo eram promissoras.
Desafios operacionais no Brasil
Entretanto, operar no Brasil revelou-se mais desafiador do que o Justo imaginava. A complexidade logística do país, com suas enormes distâncias, infraestrutura deficiente em algumas regiões e alta competitividade no setor de alimentos, acabou por dificultar o crescimento da startup. A entrega de produtos frescos e perecíveis, uma parte fundamental do modelo do Justo, apresentou desafios imprevistos.
Além disso, o sistema tributário e fiscal do Brasil, notoriamente complexo, complicou ainda mais a operação. Especialistas, como Alberto Serrentino da Varese Retail, destacam que o varejo digital alimentício enfrenta grandes obstáculos logísticos, principalmente em um mercado tão grande e fragmentado como o brasileiro.
Impacto do fechamento e o redirecionamento para o México
Com a saída do Justo, outros players do mercado deverão absorver a clientela da empresa. Empresas como iFood, Rappi, Daki, e grandes redes como Carrefour e Pão de Açúcar, que já ampliaram suas operações online, estão bem posicionadas para captar os consumidores que buscam facilidade nas compras de supermercado digital.
O Justo, por sua vez, parece estar voltando sua atenção para mercados com uma estrutura logística mais eficiente, como o México. A startup já fez investimentos no país e firmou parcerias estratégicas, incluindo com a Amazon, para melhorar suas operações de entrega. No México, o cenário é mais favorável, com uma dinâmica de consumo mais alinhada ao modelo de supermercado digital e um sistema fiscal menos complicado.
Mercado de supermercados digitais no Brasil
Apesar do fechamento do Justo, a tendência de crescimento nas compras de alimentos online no Brasil continua. De acordo com o relatório Webshoppers da NielsenIQ Ebit, o setor de alimentos no e-commerce seguiu em expansão nos últimos anos, impulsionado pela pandemia e pela crescente demanda por conveniência.
No entanto, o Brasil ainda enfrenta desafios quando se trata de estabelecer modelos de negócios puramente digitais e sustentáveis. A alta complexidade logística, as questões fiscais e a competitividade no setor dificultam a implementação de soluções que atendam a todos os requisitos do mercado. Para as empresas que buscam entrar nesse segmento, a adaptação à realidade brasileira é fundamental para o sucesso a longo prazo.
Futuro do varejo alimentar digital
Com a saída do Justo, a competição no setor de supermercados digitais no Brasil continuará acirrada. O mercado permanece aberto para novos entrantes que busquem atender à demanda crescente por soluções práticas, rápidas e convenientes para a compra de alimentos online.
No entanto, os aprendizados do Justo e a adaptação às peculiaridades locais serão determinantes para o sucesso de outras startups que desejam explorar esse segmento no Brasil.
Enquanto isso, o México parece ser o próximo grande foco da empresa, com um ambiente mais favorável para o modelo de supermercado digital. A mudança estratégica pode representar uma reviravolta para o Justo, que está apostando em um mercado com melhores condições logísticas e fiscais para sua operação.